sábado, 7 de abril de 2012

Jogos Esquecíveis: Palmeiras 1x0 Paysandú (26/09/2002)


Falar do trágico campeonato brasileiro de 2002 é um assunto que causa dor a qualquer um de nós. Você pode até perguntar: então para que tocar em algo que deve ser esquecido? A resposta está nas linhas abaixo.
No ano de 2002 eu era adolescente e estava no auge do meu fanatismo pelo alviverde. Quando você é "moleque" as vitórias e derrotas possuem tons mais doces ou amargos e o futebol é uma grande parte de sua vida. De maneira simplista pode-se dizer que a vida são os amigos, a namoradinha, a escola e o futebol. O resto é secundário.
Pois bem, como eu era sócio do Palmeiras naquela época assisti a maioria dos jogos daquele Brasileirão. Hoje pode parecer absurdo, mas no início do campeonato eu estava confiante no título. O técnico era o Luxemburgo, tinhamos o goleiro recém-campeão da Copa, tinhamos contratado o destaque do primeiro semestre (Dodô), um grande ídolo voltava (Zinho), trazido boas promessas (Nenê e Leonardo Moura) e a base tinha jogadores que gostava na época (César (zagueiro), Arce, Itamar, etc). Com um pouquinho de sorte até que daria para disputar o caneco.
Primeira partida: empate com o Grêmio em casa (estava lá). Considerei normal apesar de ter ficado um pouco chateado. Em seguida o Luxemburgo pede demissão e vai para o Cruzeiro. Putz, e agora? Mas enfim... na segunda partida o Palmeiras empata fora contra o Cruzeiro e pensei que daria para continuar adiante sem o desertor. Terceira rodada: vitória por 3x2 sobre o São Caetano. Quem sabe? Quem sabe?
Mas o sinal vermelho acendeu para mim apenas na quarta rodada. Uma trágica derrota para o Atlético-MG por 4x0 no Palestra (também estava lá). Algo de errado estava no ar.
Daí em diante foi uma sequência de derrotas e empates que prefiro nem comentar. Tudo dava errado e o clima ficava cada vez mais pesado. Me lembro de ter saído chorando do Palestra após uma derrota para o Bahia por 2x1 com o gol da vitória deles aos 44 minutos do segundo tempo em um sábado frio e desolador.
O rebaixamento parecia uma questão de rodadas. Aquele bando de malditos jamais conseguiria sair do buraco que haviam colocado um gigante. Mas no dia 26 de setembro de 2002 a história foi diferente...
Era uma quinta-feira e o Palmeiras vinha de uma derrota para a Ponte Preta e apenas 1 vitória em 12 partidas no campeonato. Relutei em ir com meus amigos ao Palestra com medo de mais uma desolação. Mas enfim, vamos lá despejar mais um pouco de fanatismo nas arquibancadas duras do jardim suspenso...
Palmeiras x Paysandú. Logo na entrada fiquei muito surpreso: uma fila gigante e 15 mil fanáticos sofrendo e querendo ajudar de alguma forma o time. Era a hora de ir até a morte mesmo que o "paciente" estivesse em estado terminal. O amor foi incondicional e isso me recordo com carinho daquele ano.
O jogo corria amarrado, tenso e quem fizesse o primeiro gol fatalmente venceria aquele jogo de baixo nível técnico. Final do primeiro-tempo: 0x0. Estranhamente acreditava que ganharíamos a peleja pois aqueles pernetas em campo tinham ao menos que retribuir o apoio que tantos fanáticos estavam dando naquele momento.
25 minutos do segundo tempo. Nenê invade a grande área e cruza rasteiro sem direção, Itamar domina a bola meio sem jeito e fuzila! Gol! Gol! Gol!
Daí até o final foi um sufuco só. O time escaldado com tanta desgraça se retranca e chuta a bola para qualquer lado na expectativa de um sorriso naquele mar de desilusão. É aquele momento de angústia coletiva que só quem frequentou algum jogo no estádio sabe. É algo quase insuportável. Mas acabou! Ganhamos, pqp! Ganhamos, p....! Ganhamos c....!
De repente aparece uma bandeira grande de Nossa Senhora Aparecida. Algo emocionante. A fé realmente movia montanhas ou ao menos nosso time para sair das trevas. Saímos com um sentimento: no final tudo vai dar certo!
Infelizmente não deu. O time até reagiu e alternava vitórias com derrotas a partir daquela vitória. Mas fraquejou em momentos cruciais que também não vale a pena escrever aqui.
De qualquer forma guardo com carinho aquela vitória sobre o Paysandú. Se tivéssemos escapado talvez o jogo fosse lembrado com mais carinho e como o ponto de virada para evitar o pior.
Enfim... às vezes a vida não é aquele balão azul que desejamos. Mas é como diz Fernando Pessoa: "Tudo vale a pena, se a alma não é pequena". E aquele 26 de setembro de 2002 valeu muito a pena para a minha alma palestrinha. Afinal de contas foram 15 mil palmeirenses que compartilhavam juntos de um conjunto de sensações indescritíveis. Era o que nos mantia vivos e nos matava naquele momento e por toda uma vida.

Vídeo do gol: http://www.youtube.com/watch?v=8FYdXVgh0RE
Matéria sobre o jogo: http://www1.folha.uol.com.br/folha/esporte/ult92u48675.shtml